quinta-feira, 18 de abril de 2024

Novo poema nº 45 para Ana Isabel


Novo poema nº 45 para Ana Isabel

Os cientistas são no fundo pessoas como as outras; acreditam apenas naquilo que lhes convém e depois procuram acertar as circunstâncias com as suas ideias particulares.

A ciência não tem nada de místico neste tempo de 2021 pois a situação flutua entre uma coisa e o seu contrário e para isso há sempre uma resposta ou uma explicação.

Porque o importante é dormir descansado todos os dias, o mesmo é dizer todas as noites depois de desligar a Internet que é o novo relógio do tempo e do mundo.

José do Carmo Francisco   

(Óleo de August Herbin)     

 

terça-feira, 19 de março de 2024

Novo poema nº 44 para Ana Isabel


Novo poema nº 44 para Ana Isabel

A bandeira vermelha é uma indicação para os banhistas mas o nadador-salvador está sem trabalho; a gente da praia prefere o espaço intermédio entre o oceano e a terra para brincar na água que sobejou da recente maré cheia.

O café do motociclista é um combustível cultural no fim da manhã, intervalo de viagens feitas e por fazer na máquina voadora a rasgar a paisagem e a assustar o povoamento. 

Porque tudo isto se inscreve nos dias das férias que, mesmo perturbadas pela pandemia, não deixam de se impor no calendário de quem aqui se fixou de modo provisório.

 José do Carmo Francisco  

(Fotografia de Luís Eme - Algarve) 


domingo, 18 de fevereiro de 2024

Novo poema nº 43 para Ana Isabel


Novo poema nº 43 para Ana Isabel

Um dia Jesus Correia (1924-2003) mostrou-me uma fotografia da equipa dos cinco violinos ao lado da criança prodígio Pierino Gamba de visita a Portugal em 1947.

Hoje vi no Youtube o vídeo com um menino russo com muito estilo a tocar como gente grande o Concerto nº 3 de Mozart para piano e orquestra de câmara.

Porque aqui é tudo uma questão de escala e de dimensão. No caso deste menino eu  tenho todas as dúvidas sobre a duração do efeito surpresa; a única coisa assegurada é o gozo pessoal e íntimo de cada concerto.     

 José do Carmo Francisco

 

domingo, 21 de janeiro de 2024

Novo poema nº 42 para Ana Isabel


Novo poema nº 42 para Ana Isabel

Eram frugais os cavaleiros de Nuno Álvares Pereira a caminho de Monchique; davam de beber aos cavalos na ribeira de São Teotónio, a seguir rezavam e só depois comiam pouco e devagar.

É por tudo isso que ainda hoje tanto a imagem e como o altar antigo permanecem e continuam no pequeno Santuário do Monte da Orada.

Porque nem tudo se perde na erosão do tempo que, sempre e todos os dias, trabalha para o lado do esquecimento.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

 

sábado, 23 de dezembro de 2023

Novo poema nº 41 para Ana Isabel


Novo poema nº 41 para Ana Isabel

Por causa da pandemia o meu livro No tempo de Jesus não havia fotografias não chegou a ser entregue à professora Helena na Escola do Telhal e foi pena pois até pedi à editora uma capa especial para o livro ser manuseado por crianças.

Em teoria e na minha expectativa, poderia ter sido um encontro feliz entre um pequeno livro de cinquenta crónicas, a professora e os colegas do meu neto Pedro.

Porque tudo na vida é um mistério e nos cruzamentos do trânsito do acaso foram outras as prioridades no mês de Março de 2020.

José do Carmo Francisco 

(Óleo de James Sand)


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Novo poema nº 40 para Ana Isabel


Novo poema nº 40 para Ana Isabel

Há sonhos que se perdem dentro das ruas escuras e no barulho do mar; talvez sejam mesmo pesadelos porque trazem no seu bojo uma angústia pesada.

A cidade tem a dimensão da narrativa, desenha-se como uma novela com as suas figuras, os seus interesses e as suas expectativas. 

Porque tudo se revela quando o vento empurra a neblina para dentro do mar e os telhados começam a brilhar com o sol que se demora e faz daquela superfície uma espécie de espelho.

José do Carmo Francisco      

(Fotografia de Luís Eme - Sesimbra) 


terça-feira, 31 de outubro de 2023

Novo poema nº 39 para Ana Isabel

 

Novo poema nº 39 para Ana Isabel

Ao ver o jurado do Prémio Literário a chá e torradas no melhor restaurante da cidade, o vereador da cultura prometeu-lhe logo assistência médica, dormida num bom hotel e até o pagamento do funeral.

Outra vereadora da cultura afirmou não fazer ideia de quem é Júlio César Machado, provando dirigir aquela área como podia estar nos Resíduos Sólidos, Espaços Verdes, Turismo ou Desporto e Acção Escolar.

Porque no sistema cultural perverso que é o nosso o que conta é encaixar os candidatos; não interessa onde nem como porque o importante é ficarem colocados.  

José do Carmo Francisco  

(Fotografia de Luís Eme) 

     

domingo, 15 de outubro de 2023

Novo poema nº 38 para Ana Isabel

 

Novo poema nº 38 para Ana Isabel

Caçar e cassar são duas palavras homófonas mas o seu sentido é muito diferente; a primeira usa-se para animais perseguidos, a segunda trata de procurações notariais.

Descubro em Negócio de pomba, novela de Vitorino Nemésio, as palavras «caçava a procuração» quando se devia ter escrito «cassava» no sentido de «anular ou fazer perder a eficácia».

Porque nem sempre o escritor ou o editor reparam nos chamados por toda a gente pequenos pormenores embora seja sempre neles que se localizam as grandes diferenças.  

José do Carmo Francisco   

(Fotografia de autor desconhecido)

 

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Novo poema nº 37 para Ana Isabel


Novo poema nº 37 para Ana Isabel

Há uma sombra entre a joeira e o corpo de quem a trabalha para fazer subir a palha e o feijão à procura do sopro de brisa capaz de separar o que o malho na eira não conseguiu.

Este mágico ritual que se repetiu de geração em geração, corre o risco de, em pouco tempo, não ter continuidade nem na família, nem na aldeia, nem no Mundo.

Porque são outros os caminhos e os processos, os tempos e as expectativas; tal como o trigo cujos silos são hoje ninhos de microempresas, o feijão chega em latas às prateleiras dos supermercados. 

José do Carmo Francisco

(Óleo de Antal Neogrady)


quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Novo poema nº 36 para Ana Isabel

 


Novo poema nº 36 para Ana Isabel

Um dia, na Associação Portuguesa de Escritores, Óscar Lopes ouviu uma jovem autora falar dum get together com escritores estrangeiros em visita a Portugal. Poderia e deveria ter dito encontro ou convívio. 

Hoje li numa lavandaria a palavra insólita DORR em vez de DOOR num dos modernaços cartazes bilingues com instruções aos clientes da loja. E mesmo que exista não faz sentido aqui.

Porque se trata de um outro nível; já não o uso indevido de uma expressão inglesa mas o erro crasso de palavra que presumo não existir e não tem razão para integrar o bilingue cartaz.

 José do Carmo Francisco

 (Fotografia de Luís Eme)