domingo, 13 de agosto de 2017

Canção breve para uma foto de 1957


Canção breve para uma foto de 1957

Quem diria, quem diria
Seis por nove de ocasião
Na casa onde eu nascia
A primeira comunhão.
Era apenas na tranqueta
A porta da casa velha
O peixe frito na gaveta
Pão no tecto junto à telha.
Quando alguém ia a correr
Buscar brasas para o incenso
Com soluços de mulher
As lágrimas ficam no lenço.
Quem diria, quem diria
Sessenta anos mais tarde
O retrato que eu sabia
É a fogueira que arde.
Na casa feita em ruínas
Só uma memória resiste
Nas horas mais pequeninas
A infância é um campo triste.
Das ilusões semeadas
Numa fazenda em pousio
A eira das madrugadas
Tem o milho junto ao rio.
Era em Santa Catarina
Que os sonhos eram reais
Música ao virar da esquina
Nasciam as festas anuais.
Naquilo que foi destino
Ruínas em vez de amor
Meu retrato pequenino
Perdeu-se e não tem valor.

José do Carmo Francisco      

(Fotografia de autor desconhecido)

Sem comentários:

Enviar um comentário