quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Tempestade de Verão


Tempestade de Verão

Quem diria, quem diria
Quarenta anos depois
Que a balada deste dia
Era feita entre nós dois.
Que na casa da costura
Com dedais em colecção
Uma nuvem de amargura
Traz tempestade de Verão.
Que coração naufragado
Sem direito a cemitério
Vai comigo a todo o lado
Entre a mágoa e o mistério.
Que na areia desta praia
Houve um golpe de calor
E traz no desenho da saia
Meu olhar de pescador.
Quem diria, quem diria
O mundo faz a fronteira
Entre esta luz da Abadia
E toda a Praia da Vieira.
Que Charneca é aridez
E Lezíria é abundância
O teu Bairro português
Fica longe da distância.
É uma casa, é um casal
O poço de água tão fria
Perto da estrada real
Quem diria, quem diria.
Nos livros que eu escrevia
E em poemas de nada
Uma teimosa alegria
Nasce cada madrugada.

José do Carmo Francisco      

(Óleo de Philippe Jacquet)

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